A Marcha da Família com Deus pela Liberdade e o Golpe de Estado em 1964.

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade
e
O  Golpe de Estado no Brasil em 1964.

“Entre março e abril de 1964, o Rio Grande do Sul passaria para um momento histórico em relação ao processo do Golpe de 1964. Assim como entre agosto e setembro de 1961, na Campanha da Legalidade, o Estado estava no olho do furacão para uma possível resistência ao Golpe Civil-Militar, impedido cerca de três anos por um dos maiores movimentos cívico-democrático e nacionalista da formação econômico-social brasileira”...
...O Golpe pode ser entendido como a culminância de um amplo movimento civil-militar contra um projeto de sociedade que pretendia promover mudanças dentro de preceitos nacionalistas e democráticos. Movimento que foi engendrado dentro de um processo de luta de classes contra o qual as classes dominantes impuseram seu projeto contrário e pela força...
“O final daquele processo quase todos sabem: o Golpe que depôs João Goulart, legítima e constitucionalmente eleito, inaugurou os 21 anos da Ditadura de Segurança Nacional e o terrorismo de Estado no Brasil”...
Diorge Konrad *

Reação da direita
Os políticos do PSD, mais conservadores, temendo uma radicalização à esquerda deixam de apoiar o governo. A situação política de Goulart se torna insustentável, pois não tinha apoio total do PTB e nem dos comunistas. Não consegue governar de forma conciliatória.  A UDN e o PSD temiam pelo crescimento do PTB, já que Leonel Brizola era o favorito para as eleições presidenciais que aconteceriam em 1965 Criou-se o medo de que Goulart levasse o país a um golpe de estado, com a implantação de um regime político nos moldes de Cuba e China. Era o "perigo comunista", que serviria depois como justificativa para o golpe.
Comício da Central do Brasil e a eclosão do golpe

O comício de Goulart e Brizola, na Central do Brasil, em 13 de março de 1964, foi a chave para dar início ao golpe. Ficou conhecido como Comício da Central.36
Brizola e Goulart anunciavam as reformas de base, incluindo um plebiscito pela convocação de nova constituinte, a reforma agrária e a nacionalização das refinarias particulares de petróleo. Jango também criticava o sentimento anticomunista e a utilização dos meios religiosos como instrumentos de oposição ao governo.
Os políticos da UDN e do PSD acreditavam que Brizola pudesse vencer as eleições presidenciais e que o povo apoiaria o seu projeto. Logo a aliança UDN-Militares-Estados Unidos iniciou sua mobilização definitiva em direção ao golpe.
O uso da religião
Desde 1961 o IPES estava mobilizando a classe média. Sendo o Brasil de maioria católica, a parcela cristã conservadora foi mobilizada para a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, reunindo centenas de milhares de pessoas. A manifestação foi amplamente coberta pela mídia e provocou o alastramento de um sentimento anticomunista pela sociedade. No Rio, a marcha teve como ponto de partida uma grande concentração entre a igreja da Candelária e o prédio do Ministério da Guerra. Segundo Marcos de Castro, a manifestação teve quase nenhuma participação das camadas pobres da população, tendo a maior parte das pessoas vindo de bairros nobres cariocas. Em São Paulo, quinhentas mil pessoas participaram da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, no dia 19 de março de 1964. Os manifestantes foram da Praça da República em direção à Praça da Sé, onde foi realizada uma missa pela "salvação da democracia", celebrada pelo padre Patrick Peyton, conhecido por sua campanha anticomunista, cujo slogan era "A família que reza unida permanece unida”. A marcha teve suporte garantido por Adhemar de BarrosCarlos Lacerda e pela CIA. A finalidade desta era mobilizar a maior quantidade possível de participantes para dar respaldo popular e facilitar aos militares a organização da derrubada de Goulart com o apoio dos políticos e da sociedade organizada. Na época, setores conservadores de outras igrejas também se juntaram ao apoio às cruzadas "anticomunistas". A Igreja Metodista, por exemplo, encontrava-se dividida, com setores simpáticos às reformas de Jango, e outros fortemente alinhados aos movimentos golpistas. Cabe lembrar aqui que, no final de 1968, ocorreu o fechamento da Faculdade de Teologia dessa Igreja, em sintonia com o AI-5. Muitos pastores das Igrejas Metodista, Luterana e Presbiteriana foram perseguidos. Alguns afastados da vida eclesiástica e compulsoriamente aposentados. Essas igrejas estavam claramente divididas entre os favoráveis ao golpe e os contrários, ligados às Comunidades Eclesiais de Base. A movimentação popular foi financiada pelo IPES.




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